quinta-feira, 12 de novembro de 2009

DICA DE LEITURA


Trecho do primeiro capítulo de 'A parede no escuro', de Altair Martins
Adorno mexeu-se, tendo uma sensação apenas, e de assalto, de que teria dormido um minuto a mais, e esse um-minuto seria o suficiente para que todas as coisas tivessem mudado de lugar. Porque não alcançava o fim da cama. Ou o corpo de Onira. E então a primeira coisa que viu foi capaz de sustos: através da janela houve a repentina luminosidade de um relâmpago que ele, no lado escuro, não conseguiu entender. E a luz lhe renovou sensações desagradáveis de que, que horas seriam?, estava atrasado. Uma tremura que havia feito o sangue acordar se antes dele afirmava que sim, estava atrasado. Adorno tentou erguer-se, mas era tudo muito difícil. A janela sendo atravessada de luzes, e seus braços dormentes. E era o relógio lhe apertando o pulso. Sobre o corpo o peso de cinco homens. Se estaria muito atrasado?, fosse perguntar ao pão.

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